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Israel fecha emissora de TV árabe Al Jazeera por "ameaça à segurança nacional"

Medida teve aprovação unânime do governo em Tel Aviv e tem efeito imediato, segundo Ministério das Comunicações. Com isso, canal controlado pela monarquia do Catar fica impedido de operar localmente

Por Deutsche Welle

Imagem de arquivo/TV Al Jazeera
Imagem de arquivo/TV Al Jazeera
REUTERS/Ronen Zvulun/File Photo

O gabinete de governo do premiê Benjamin Netanyahu anunciou neste domingo (05/05) a suspensão das operações em solo israelense da emissora árabe de TV Al Jazeera, controlada pela monarquia do Catar.

A decisão vem após lei aprovada pelo Knesset, o Parlamento de Israel, que autoriza o fechamento de emissoras estrangeiras que ameacem a segurança nacional diante da guerra que o país trava contra o Hamas na Faixa de Gaza. E, segundo o Ministério das Comunicações, terá efeito imediato.

De acordo com a imprensa israelense, a decisão do governo pode suspender a transmissão da emissora por 45 dias, prazo passível de prorrogação.

A medida inclui o fechamento dos escritórios da empresa em Israel, o confisco de equipamentos de transmissão, o corte do sinal de cabo e satélite e o bloqueio de sites. Não está claro, porém, se as atividades da emissora na Cisjordânia ocupada também foram afetadas.

No X (antigo Twitter), Netanyahu afirmou que a decisão foi "unânime". O canal é acusado pelo governo israelense de promover "agitação" e fazer uma cobertura enviesada.

Relação já tensa piorou com a guerra em Gaza

Israel tem uma relação tensa com a organização de mídia catari, cuja cobertura da guerra em Gaza tem focado especialmente no lado dos palestinos. Israel acusa o canal de atuar em parceria com o Hamas e fazer propaganda do grupo radical islâmico que controla a Faixa de Gaza.

Um dos poucos veículos de imprensa que seguiu funcionando em Gaza após o início do conflito, em 7 de outubro, a Al Jazeera transmitiu imagens e vídeos de bombardeios aéreos mortais e hospitais lotados sob fogo israelense. Também exibiu com frequência imagens de combatentes do Hamas e de ataques a soldados israelenses.

A emissora catari foi fundada em 1996 e se destacou internacionalmente pela sua cobertura também crítica do mundo árabe.

O governo do Catar tem mediado negociações por um cessar-fogo entre Israel e Hamas. Antes da guerra eclodir, o país era um dos mais importantes apoiadores financeiros do grupo, que é considerado uma organização terrorista por diversos países do Ocidente. Há líderes do Hamas vivendo na capital do reino árabe, em Doha.

Reações

Correspondente sênior da Al Jazeera em Israel, Imran Khan afirmou que o bloqueio atingiu não só a emissora, mas também o site. Segundo o jornalista, aparelhos usados no trabalho da empresa também foram afetados pela decisão, o que significa que seu telefone também poderia ser confiscado pelas autoridades.

"É uma proibição ampla e não sabemos por quanto tempo irá vigorar", declarou Khan em pronunciamento publicado no site da Al Jazeera.

Chefe do escritório regional da emissora, Waleed Omari, disse que a empresa irá recorrer legalmente da decisão que "não é profissional, nem jornalística", mas sim "política".

A medida também não tem o apoio de Estados Unidos e Alemanha, os aliados mais próximos de Israel.

O bloqueio também foi criticado pelo Hamas, que falou em "violação flagrante da liberdade de imprensa" e esforço para esconder a "verdade" da guerra de Gaza.

O grupo, que comandou o ataque sem precedentes a Israel em 7 de outubro que desencadeou o atual conflito, disse em um comunicado que a decisão de fechar o canal de notícias foi "uma medida repressiva e retaliatória contra o papel profissional da Al Jazeera em expor os crimes e as violações" em Gaza, e "representa o ponto culminante da guerra declarada contra os jornalistas (...) com o objetivo de ocultar a verdade".

O Comitê Internacional para Proteção de Jornalistas contabiliza até o início de maio 97 profissionais de imprensa mortos desde o iní,cio da guerra, sendo 92 deles palestinos. Vários deles eram funcionários da Al Jazeera.

Antes disso, em maio de 2022, a morte da repórter palestino-americana Shireen Abu Akleh durante a cobertura da emissora de uma operação israelense no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, escandalizou a opinião pública ao redor do globo. A Al Jazeera culpou militares israelenses pela morte e levou o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia. Israel nega a acusação.

ra/md (Reuters, AP, AFP, DPA, KNA, ots)

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